A proximidade entre o presidente Jair Bolsonaro e o advogado paulista Frederick Wassef começou em 2014, pouco depois da campanha eleitoral daquele ano — na ocasião Bolsonaro foi eleito deputado federal com a maior votação do RJ .
Foi Wassef quem procurou o então deputado federal. Ele mandou um e-mail se dizendo admirador do trabalho de Bolsonaro nas redes sociais, que já tinha visto alguns vídeos dele e que se alinhava com aquilo que defendia o então parlamentar — questões como armamento, família e combate à corrupção, discursos que Bolsonaro levou para a campanha eleitoral que o elegeu presidente, em 2018.
Desde então, a relação se estreitou com toda a família, incluindo os filhos do presidente Bolsonaro.
“Eu estou no dia a dia aqui com o presidente e com a família Bolsonaro. Eu conheço tudo que tramita na família Bolsonaro”, afirmou Wassaf em 28 de abril de 2020, em entrevista à rádio “Gaúcha”.
Em 2018, Wassef começou a atuar como advogado de Bolsonaro no caso da facada desferida por Adélio Bispo de Oliveira contra o então candidato à presidência, em setembro daquele ano, durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG).
No ano seguinte, em 2019, Wassef passou a atuar como advogado do filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos), na investigação que apura movimentações suspeitas nas contas do parlamentar.
Flávio é apontado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro como chefe de uma organização criminosa que atuou em seu gabinete no período em que foi deputado da Assembleia Legislativa do estado (Alerj). Ele nega as acusações. Entre 2003 e 2018, Flávio cumpriu quatro mandatos parlamentares consecutivos.
A investigação também envolve o ex-PM Fabrício Queiroz, que trabalhou como assessor de Flávio. Apontado pelo MP como operador do esquema, ele empregava funcionários fantasmas e exigia parte do salário (ou mesmo a integralidade dele) de volta.
Desde que o caso veio à tona, o paradeiro de Queiroz era desconhecido. Ele foi encontrado e preso na manhã desta quinta-feira (18) em uma operação da Polícia Federal (PF) na cidade de Atibaia (SP).
É de Wassef a casa onde Queiroz estava. De acordo com o que o caseiro disse a PF, Queiroz estava no imóvel havia mais de um ano.
Durante a entrevista ao programa “Em Foco com Andréia Sadi” em abril de 2020, Wassef disse que não sabia do paradeiro de Queiroz e que não advogava para ele.
“Então vamos lá, é importante lembrarmos que não existe a frase o sumiço do Fabrício Queiroz, isso não corresponde a realidade real”, disse Wassef a Sadi, que então questiona onde ele estaria. “Fabrício? Eu não sei, eu não sou advogado dele”, respondeu Wassef.
Cartaz com a inscrição ‘AI-5’ junto a bonecos de Tony Montana, mafioso do filme ‘Scarface’ — Foto: Divulgação/Polícia Civil
Visitas frequentes ao Planalto
Wassef é frenquentemente visto no Palácio do Planalto e no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente Jair Bolsonaro. Na quarta (17), um dia antes da prisão de Queiroz, Wassef estava no Planalto na cerimônia de posse do deputado Fábio Faria como ministro do novo Ministério das Comunicações.
Frederick Wassef em Brasília na posse do novo ministro do novo Ministério das Comunicações, em 17 de junho — Foto: Reprodução/TV Globo
Em abril, Wassef foi recebido pelo presidente Bolsonaro em meio às tratativas para as substituições de Sergio Moro, ex-ministro da Justiça, e Mauricio Valeixo, ex-diretor da PF.
Em setembro de 2019, o presidente Bolsonaro recebeu Wassef por 30 minutos no Palácio da Alvorada.
Ação no STF
Wassef é autor da ação no Supremo Tribunal Federal (STF) que pedia que dados sigilosos compartilhados pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e pela Receita Federal não fossem usados em investigações sobre Flávio sem autorização da Justiça.
Com base no pedido, o presidente da Corte, ministro Dias Toffoli, suspendeu em julho do ano passado todas as investigações que usavam esse tipo de dados.
No fim de 2018, relatório do Coaf apontou operações bancárias suspeitas de 74 servidores e ex-servidores da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). O documento revelou movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta de Fabrício Queiroz.
Após a decisão de Toffoli, de acordo com reportagem da revista “Época”, Wassef comentou o caso ao telefone com um interlocutor. A revista aguardava para falar com ele, também por telefone, por isso ouviu a conversa.
“A decisão… Amor… O meu nome… Tá o Brasil inteiro me ligando e me chamando de Deus! Você não tem noção! É uma bomba atômica! Amor, está comigo, te mando agora. O Flávio, o presidente, tudo infartado, chorando…”, afirmou Wassef ao telefone, de acordo com a revista.
Fonte: g1