Nesta semana, o lateral brasileiro Jonathan Silva, atualmente no Las Palmas, passou uma noite detido por acusação de violência de gênero. Ele foi acusado de agredir a esposa em um hotel na Espanha. Funcionários e hóspedes fizeram uma denúncia.
Como se não bastasse o absurdo que é a agressão, o clube resolveu se pronunciar de uma maneira lamentável. O Las Palmas diz ser contra qualquer tipo de violência, incluindo a de gênero, mas tratou o caso como “acontecimento da vida privada”.
“A prisão do jogador Jonathan Silva ocorreu em consequência de acontecimentos que afetam a sua vida privada e em nenhum caso estão relacionados com a atividade desportiva do referido jogador ou com a UD Las Palmas“, diz o comunicado.
Jonathan, no centro da foto, deixa Tribunal após prestar depoimento — Foto: Canarias7.es
Não é incomum vermos indivíduos ou instituições naturalizando a violência no âmbito privado. No futebol, isso não é diferente. Agressões à mulher são constantemente minimizadas. O posicionamento do Las Palmas é um exemplo disso. Como é possível um clube acreditar que o fato de o jogador ter sido acusado de agredir a esposa não tem a ver com a atividade em campo? O esporte cria ídolos, alça jogadores à posição de heróis.
Ignorar que um jogador foi acusado ou de fato agrediu uma mulher passa um recado. Deixa bem evidente que esses indivíduos e instituições não se importam com a vida das mulheres. Tratar esse tipo de conduta como algo que fica fora do esporte possibilita que agressores cheguem até essa posição de ídolos. E eu pergunto: atitutes como essa são exemplo para quem?
Infelizmente, a história se repete. Robinho foi condenado por “violência sexual em grupo” na Itália. Em um relatório sobre o caso, divulgado em 2018 pela agência de notícias ANSA, uma juíza apontou que foram encontrados em conversas interceptadas “termos chulos e desdenhosos, sinais inequívocos de falta de escrúpulos e quase consciência de uma futura impunidade”. Ainda de acordo com o texto, “isso levou o acusado até mesmo a rir várias vezes do incidente, destacando assim um absoluto desrespeito pela condição da vítima”, que ainda demonstra sinais de “trauma psíquico”.
Robinho foi condenado por estupro na Itália — Foto: MacNicol/AFP/Getty Images
Mesmo assim, não é incomum ver torcedores pedindo a contratação de Robinho.
O goleiro Jean foi acusado de agredir a então esposa, Milena Bemfica, no fim do ano passado, na Flórida. Logo depois do ocorrido, teve o contrato com o São Paulo suspenso, mas não demorou quase nada para assinar com o Atlético-GO. Em troca de mensagens, na noite da acusação, o arqueiro disse que Milena tinha terminado com a carreira dele – e ainda a ameaçou ao dizer que as filhas passariam fome. Ser titular de um clube da elite do futebol do país está muito distante de ter a carreira acabada.
Jean é abraçado por companheiros — Foto: Premiere
A questão aqui não é afirmar que as pessoas não mereçam uma segunda chance na vida. Pelo contrário, elas merecem. O problema é que, quando se trata de agressores de mulheres, a absolvição é praticamente instantânea. Ainda tem muito torcedor, dirigente e clube que age como se nada tivesse acontecido.
FONTE: G1