O apresentador da TV Globo Luciano Huck, 49, afastou a possibilidade de se candidatar à Presidência em 2022, mas reiterou que continuará no debate político e não descartou disputar o cargo no futuro. Ele também confirmou que substituirá o também apresentador Fausto Silva na emissora.
“Eu nunca me lancei candidato a nada, então eu não estaria retirando candidatura a nada, porque eu nunca lancei candidatura”, disse ao apresentador Pedro Bial.
O titular do Caldeirão do Huck falou que sua intenção de contribuir para “um país mais justo” poderá ser cumprida a partir do ano que vem com a migração para o horário nobre da emissora aos domingos. Ele assumirá a faixa do Domingão do Faustão, após a saída de Faustão no fim deste ano.
“Tenho certeza que eu posso contribuir muito para o país estando nos domingos da Globo e fazendo um programa que se conecte com as pessoas, que ouça as pessoas, que traga a esperança de volta e resgate nossa autoestima. Mas isso não quer dizer que eu esteja fora do debate público”, reforçou.
O recuo simboliza um abalo no conjunto de partidos e forças políticas que tentam fabricar uma terceira via no autodenominado centro (ou “centro democrático”) para as eleições de 2022, hoje polarizadas entre o postulante à reeleição, Jair Bolsonaro (sem partido), e o ex-presidente Lula (PT).
O apresentador, que está engajado na articulação de uma alternativa aos dois polos, apareceu com 4% das intenções de voto em pesquisa Datafolha de maio, bem atrás do petista, que liderou, com 41%, e de Bolsonaro, o segundo colocado, com 23%.
Questionado por Bial se descarta a possibilidade de ser candidato a presidente no futuro, Huck respondeu: “Pedro, o futuro a Deus pertence. Eu nunca tive medo de nenhum desafio na minha vida. E eu quero contribuir”.
Sem mencionar pré-candidatos ao Planalto, Huck se esquivou de perguntas mais específicas sobre análise de cenário, sob a justificativa de que não é hora de debater o pleito ou nomes, mas ideias. “Dar nome aos bois seria fulanizar as soluções dos problemas. É jogar o debate numa vala mais rasa.”
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O Brasil precisa de projeto. Como é que alguém pode querer ser candidato a presidente da República em qualquer tempo se não tem projeto, se não sabe o que vai fazer?”, afirmou ele, que se opõe ao governo Bolsonaro, mas sofre críticas por ter feito declarações que sugeririam seu apoio ao então candidato.
Huck revelou a Bial ter votado em branco em 2018. “Acho que naquela circunstância é o que eu deveria ter feito e fiz com bastante tranquilidade”, disse, sobre o embate entre Bolsonaro e Fernando Haddad (PT).
“Dos dois candidatos que se apresentavam naquela época, eu não me sentia representado por nenhum dos dois. E achei melhor votar em branco. Foi o que eu fiz. Eu não me arrependo, eu votei em branco e votaria em branco de novo.”
Na sequência, contudo, e sem citar nomes, deu a entender que agiria diferente perante um novo dilema. “Neste momento, a gente não está falando sobre A ou B, sicrano ou beltrano. A gente está falando sobre quem defende a democracia e quem ataca a democracia. […] Eu estarei sempre, em qualquer tempo, do lado da democracia.”
O apresentador, que se descreveu como “um cara que não está na política”, comentou ainda a desistência da candidatura em 2018. Para ele, não seria um gesto responsável entrar na disputa naquela vez.
“Em 2018, eu disse não [à candidatura] porque o sistema estava sofrido, o establishment estava derretido. Talvez tivesse uma oportunidade ali. Mas eu não consigo enxergar um cargo dessa responsabilidade, desse tamanho, como uma oportunidade. Isso seria uma irresponsabilidade”, afirmou.
O apresentador disse ainda que continuará em um “projeto de cidadania ativa”, incentivando ideias e iniciativas como as organizações que pregam renovação política apoiadas por ele nos últimos anos, entre elas o movimento Agora! e a escola de formação de novos candidatos RenovaBR
“Adoro reunir ideias, reunir pessoas, propor coisas, propor solução. Eu continuo na trajetória que eu sempre estive. A minha trajetória até hoje não foi partidária nem eleitoral. Ela foi política, porque a política é o que transforma. Nessa política eu acredito, e é ela que a gente tem que ocupar”, afirmou.
Nesse sentido, continuou Huck, a melhor contribuição que pode dar agora é como cidadão, “não como candidato a nada”. E completou: “Não é um projeto personalista, meu, ou um projeto político, partidário. Não. É um projeto de cidadania ativa”.
Nacionalmente conhecido –o que é uma característica desejável para qualquer interessado na corrida ao Planalto–, o comunicador costuma destacar a bagagem que adquiriu nas viagens que faz pelo Brasil para gravações de entrevistas com anônimos e quadros de seu programa vespertino.
“Estou há 21 anos na TV literalmente rodando o país inteiro por causa do Caldeirão e isso me colocou diante de uma realidade muito forte, que é a realidade deste país”, disse na entrevista desta quarta a Pedro Bial. “Acho que conhecer essa realidade do país me fez tentar buscar soluções.”
A decisão de se afastar do rol de presidenciáveis para 2022 foi resultado de uma soma de fatores, segundo pessoas próximas a Huck. Além da possibilidade de comandar um horário nobre e rentável aos domingos na emissora líder de audiência, pesou a conjuntura eleitoral, influenciada pela volta de Lula.
A decisão do ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), que reabilitou o ex-presidente, em março, criou um obstáculo nos planos desenhados por entusiastas de Huck, que o viam como um nome de oposição a Bolsonaro que poderia penetrar em camadas historicamente simpáticas ao PT.
Apresentando-se como defensor de uma agenda liberal na economia e progressista na área social, o apresentador explorou em palestras, artigos e postagens de redes sociais nos últimos tempos um receituário híbrido, evitando rótulos como esquerda e direita, que considera ultrapassados.
Amigos também vinham ponderando questões pessoais que poderiam levar à retirada, como o fato de que a vida pessoal e familiar do apresentador ficariam ainda mais expostas do que já são, e reflexos na carreira de sua mulher, a também apresentadora Angélica –ela, no entanto, nunca vetou a ideia.
FONTE noticiasaominuto