Perguntas que não calam. E se Bolsonaro não fosse candidato à reeleição, ele demitiria, como fez ontem à noite, o terceiro presidente da Petrobras com pouco mais de 40 dias no cargo?
Se não é para mudar a política de preços da empresa, atrelada ao valor do petróleo no mercado mundial, por que trocar José Mauro Coelho por Caio Paes de Andrade, o novo presidente?
Mauro Coelho foi indicado pelo ministro Bento Albuquerque, das Minas e Energia, que Bolsonaro demitiu por causa de um reajuste no preço dos combustíveis. Tinha que entregar uma cabeça.
Paes de Andrade foi indicado por Paulo Guedes, ministro da Economia, a quem servia como secretário especial de desburocratização. Guedes é contra mudar a política da Petrobras.
Quatro presidentes da Petrobras em quatro anos e cinco meses de governo para que a política de preços continue a mesma só pode significar uma coisa: Bolsonaro quer bancar o inocente outra vez.
Ele tem poderes para mudar a política de preços da Petrobras adotada no governo do presidente Temer? Tem. Se eleito, Lula diz que mudará. Por que Bolsonaro não muda?
Porque teme as consequências que seriam piores do que o alívio pontual. O Brasil não é autossuficiente em petróleo. Parte do que consome é importado. O risco de desabastecimento seria grande.
Bolsonaro joga para a plateia na tentativa de convencê-la que nada tem a ver com o preço dos combustíveis que tanto pesa no bolso de todos. Teme que a alta dos preços também lhe custe votos.
É mais uma prova do seu desgoverno. Da reiterada prática de Bolsonaro de enganar o distinto público. E do seu desespero com a possibilidade de ser derrotado nas eleições de outubro.
Bolsonaro é um negacionista. Fecha os olhos ao que o incomoda, ao invés de resolver o que possa. Negou a pandemia enquanto pôde, e quando não pôde revelou seu despreparo para enfrentá-la.
Vendeu-se barato ao Centrão para escapar do impeachment, e nisso foi bem-sucedido. Espera que o Centrão não lhe falte no segundo momento em que mais precisará de sua ajuda.
Deve, porém, ser reconhecido como um incansável produtor de factoides. Em média, é pelo menos um por dia, e se não fosse assim, a essa altura estaria rolando ladeira a baixo.
O estado da economia é quem definirá sua sorte, e dificilmente ele estará melhor quando outubro chegar. Até lá, sacudirá o país com a deflagração de novas crises artificiais. Nisso ele é muito bom.
Fonte: Metrópoles.com