De Wakanda à Forbes: conheça baiana que revoluciona negócios com educação empreendedora

Aos 27 anos, Karine Oliveira é CEO da Wakanda Educação, um projeto de impacto social para auxiliar empreendedores no mundo dos negócios.
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Criada no Engelho Velho da Federação, em Salvador, a baiana Karine Oliveira, de 27 anos tem revolucionado negócios com projeto de impacto social para empreendedores: a Wakanda Educação.

Com a tradução e explicação de conteúdos de negócios para a linguagem popular e regional, Karine trabalha com a emancipação de empresários negros e foi eleita uma das mentes brilhantes abaixo dos 30 anos pela revista americana Forbes, na lista anual Forbes Under 30.

Karine conta que essa nomeação foi uma validação do trabalho dela e da Wakanda, em um ecossistema que descarta a linguagem acessível que facilita o entendimento público.

“Para mim, estar na Forbes foi muito mais uma validação para o ecossistema de empreendedorismo e para as grandes empresas. O meu público de empreendedorismo, por necessidade, se identifica de cara com a linguagem que a gente tem de acessibilizar a comunicação. Mas já no ecossistema de empreendedorismo, para as pessoas estarem acostumadas a realmente entender que só dá para dar aula de negócio se falar palavras em inglês, as pessoas não validavam muito”.

“Muita gente torcia o nariz quando a gente falava que tinha um outro método de falar sobre negócios. E a gente também fala para um outro público que eles não conseguem conversar”.

Além de educar os empreendedores em uma linguagem simples, a Wakanda também fornece produtos sociais para grandes empresas que querem investir na economia local de comunidades que ficam no seu entorno.

“É bom para a gente que essas empresas entendam que, para além de assistencialismo, elas podem trabalhar com a gente, investir em economia local, que é uma moeda que vai rolar naquela comunidade e também entender que isso gera uma mídia positiva para essas empresas, de uma forma que realmente funcione e que seja real. A Wakanda é exatamente isso”.

“A gente ensina ao empreendedor por necessidade o poder transformador de investir em conhecimento, e a gente também mostra para as empresas que ela também tem um outro jeito agora de impactar a comunidade e de ter essa aproximação”.

 

O diferencial da Wakanda não fica apenas na linguagem. Outro grande ponto levantado por Karine é a integração entre os tipos de fazer negócio, já que tanto o rebuscado quanto o simples têm lições a oferecer e a agregar.

“A ideia é compreender que a galera das startups têm muito a aprender com os feirantes, por começar as coisas do zero e, inclusive, sem recurso. O que não falta é startup zebra, que acaba criando os produtos que ninguém escolhe, que ninguém quer, porque não ouviu o cliente. Esqueceu de botar o pé no chão e testar as coisas antes de fazer. Já os feirantes têm muito a aprender com as startups e com esse mundo, que é conseguir sair da lógica da sobrevivência, do bico, e começar a pensar grande”.

“Wakanda é ser esse tradutor mesmo e essa construção de pontes, para que esses dois mundos se encontrem, entendendo que os dois são necessários em par de igualdade, e não exatamente que uma linguagem se sobreponha a outra. São apenas linguagens diferentes e as duas são necessárias”

 

Economia solidária e empreendedorismo

 

Karine Oliveira é baiana, CEO da Wakanda Educação e é um dos nomes da Forbes Under 30 — Foto: Lane Silva

Karine Oliveira é baiana, CEO da Wakanda Educação e é um dos nomes da Forbes Under 30 — Foto: Lane Silva

No caso de Karine, o empreendedorismo começou com grandes lições de economia solidária. Economia essa, que muitas vezes está dentro de casa e não é percebida.

“Quando a gente pensa em pessoas negras, a gente pensa em redistribuição de renda e não somente em acúmulo de capital. E quando a gente pensa em mulheres negras, líderes de negócios, a gente pensa no impacto que elas têm nas famílias. Eu cresci entendendo, trabalhando em equipe, valorizando as pessoas e o meio ambiente. Simplesmente eu aprendi a criar prontos e a traduzir para a língua que eu conheço, mostrar para as pessoas que o que elas fazem na prática é empreendedorismo”.

“É falar para uma mulher que quando ela gere uma família, ela está aprendendo a fazer gestão de recurso financeiro, de tempo e de equipe. Só que ela não sabe os termos técnicos para isso”.

 

Uma das histórias que a inspiraram para criar um negócio de impacto social foi vivida pela própria mãe de Karine. No primeiro negócio, por meio da Cooperativa Múltipla de Produção de Alimentos Engenho Doce (Coopaed), ela ganhou um ponto de lanchonete dentro de uma universidade particular de Salvador.

Sem ter apoio financeiro da instituição, a mãe dela se juntou com outras cinco mulheres, mobilizou a comunidade e colocou o negócio para funcionar, de um jeito peculiar

“Eu vi o quanto elas começaram a ter essa sagacidade de começar a ouvir os alunos que chegavam lá sempre estressados, e como elas conseguiram realmente sair de estar sobrevivendo. Até que elas começaram a pegar a experiência dos alunos de irem nervosos na época de prova e dizer que eles poderiam pagar um valor antes, para consumir um prato de sopa. Geralmente, como eram alunos de escola [universidade] particular, eles davam uma grana alta. Com essa grana alta, elas não faziam um prato de sopa, faziam 20. Essa pessoa tinha um crédito na casa e o restante elas iam vendendo”.

“Essa é a história que mais me impacta na vida, porque foi assim que minha mãe começou e depois ela se tornou gestora de economia solidária e foi para fora, contar essa história. Foi uma história que eu vi pequena, cresci junto com minha mãe, depois ela recontou essa história para mim já adulta. Então é importante entender o que é empreender já por necessidade, mas, para além disso, aprender a usar o que você tem de melhor, suas habilidades para ter a melhor potencialidade para se sobressair nos espaços”.

“Só de entender essa história de resiliência de minha mãe, já deu todo o gás que eu precisava para realmente entender que uma outra economia é possível. E isso tudo se transformou na Wakanda como ela é hoje”

 

A escolha de um negócio voltado para a educação também foi uma influência da família. O exemplo de que o estudo era a arma certa para ajudar a vencer os obstáculos também veio da mãe. O pai de Karine, mestre de obras, ajudou a construir o Colégio Nabuco, instituição que fica no mesmo bairro em que Karine foi criada.

“Nossa família sempre foi de pessoas estudiosas. Meu pai, minha mãe, sempre incentivando a gente nos estudos. Minha mãe entrou na faculdade muito antes da gente, para poder incentivar e mostrar para a gente que esse era um ambiente nosso”.

“Minha família sempre acreditou que a melhor forma de se transformar é através da educação”

 

Infância e negritude

 

Karine Oliveira é baiana, CEO da Wakanda Educação e é um dos nomes da Forbes Under 30 — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Karine Oliveira é baiana, CEO da Wakanda Educação e é um dos nomes da Forbes Under 30 — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Além da construção de um referencial de carreira pela educação, Karine também contou com a família para apoiar no seu crescimento pessoal. Ela conta que teve uma infância feliz, de brincadeiras na rua, mas que sentia falta da representatividade nos espaços.

“Ainda nessa época, era muito longe ter representatividades. Minha maior referência foi minha mãe, que foi essa mulher fora da curva, que sempre me mostrou que não teria uma outra mudança se não fosse acreditar em mim. Então, eu creio que a Karine da infância, uma Karine que tinha pouca autoestima, que não acreditava tanto nesses feitos, a gente sente orgulho dessa trajetória que a gente teve”, disse ela.

“Olhar para essa Karine da infância e dizer que vai valer a pena todas as violências que ela passou, porque ela vai conseguir aprender com cada coisa que aconteceu e se tornar uma pessoa que ela vai se orgulhar pelo restante da vida”.

 

Adulta, ela não se tornou um referencial somente para a Karine da infância. Mas também para várias mulheres e homens negros que buscam sua própria emancipação financeira.

“É muito complicado para as pessoas veem, enquanto mulher negra em um lugar de liderança, ou entender essa vontade que eu sempre tive de criar coisas. De criar, de ter essa potência criativa e gestora dentro de mim. As pessoas, infelizmente, sempre incentivavam que eu ia trabalhar em algum lugar, que eu ia realizar o sonho de outras pessoas”.

“Eu me entendi no mundo do empreendedorismo e me aceitei nesse lugar. Foi exatamente entendendo essa lógica que eu assumi isso na Wakanda e trouxe isso como o principal diferencial e inovação no que a gente faz”.

 

Hoje, para além das violências impostas pelo racismo, Karine enxerga o fato de ser uma mulher negra de uma forma positiva em sua trajetória como empresária.

“Para mim, ser uma mulher negra impactou de forma muito positiva, porque eu saí desse lugar de partida olhando o mundo de uma forma diferente. Olhando esse mundo das periferias, esse mundo de economia solidária. Esse outro mundo que é extremamente possível e que é extremamente engenhoso, criativo, que são os mundos da periferia na parte de dentro. E que me colocou também essa questão de entender a essa relação de que preto e dinheiro não são palavras rivais”.

FONTE: G1

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