Jovens que 4 meses atrás eram estudantes sonhando em se formar, hoje trabalham durante a pandemia que pegou o mundo de surpresa e causou formaturas antecipadas, mudanças de cidades e isolamentos.
A fisioterapeuta Larissa Luana Clara Castilho, de 22 anos, se formou em março deste ano e em menos de um mês começou a trabalhar em hospitais privados de Porto Velho. Para ela, a solidão dos pacientes durante os tratamentos é cruel.
“Como fisioterapeuta percebo de perto a importância de cada profissional frente ao paciente e principalmente os com Covid-19, pois eles não podem receber visitas. Ao entrar no quarto e perceber a alegria deles em ver um profissional que vai ficar um tempo ali, presente, prestando assistência… é uma sensação gratificante”, diz Larissa.
Larissa Luana Clara Castilho, de 22 anos, fisioterapeuta em RO — Foto: Reprodução/WhatsApp
Sensação que se mistura ao medo da contaminação, de não ser boa o suficiente, de realizar procedimentos pela primeira vez.
“Todo recém formado começa a dar plantão com aquele medo, pensando: “Meu Deus o que vai chegar? Será que eu dou conta disso?”. Eu nunca imaginei viver uma pandemia, ainda mais como médica”, compartilha Letícia Debowski, médica de 23 anos.
Letícia se formou no dia 7 de maio em uma colação antecipada da Universidade Federal de Rondônia (Unir). A cerimônia foi em videoconferência.
Dias depois ingressou no processo seletivo emergencial da Secretaria de Estado de Saúde (Sesau) com plantões de 24 ou 12 horas no Centro de Medicina Tropical de Rondônia (Cemetron) e em um hospital de pequeno porte de Cujubim (RO).
Trocou as madrugadas em claro estudando para as provas da Unir pelas madrugadas iniciando ventilações mecânicas ou transportando pacientes.
“Um dos plantões que me marcou foi onde uma senhorinha com Covid estava com necessidade de UTI, mas havia escassez e isso tinha que ser passado para a família, que havia esperança dela viver se a gente conseguisse UTI. Chamei eles, expliquei, e foi muito difícil. O que mais dói é a família olhar pra gente e falar: “Eu posso ver ela? Posso me despedir?”. E a gente tem que falar que não, pela própria segurança deles”, compartilha Letícia.
Júlia Caroline Azevedo Reis, de 24 anos, também é recém-formada pela Unir. O primeiro emprego já foi no Hospital referência em Covid-19, o Cemetron. Ela recebe pacientes regulados (casos passados pelo telefone) das unidades de saúde da capital e do interior.
Até agora, um dos plantões mais difíceis foi o que teve quatro intubações praticamente de uma vez, em uma tarde.
“Todo plantão tem alguma coisa nova. São 24 horas que tudo pode acontecer”, diz.
Elas foram expostas a rotinas que exigem mais que o diploma, pois testam o emocional e psicológico. Júlia e Letícia tiveram que sair de casa por um tempo, com medo de levar o vírus aos familiares.
“Minha mãe fica desesperada pensando que eu posso não estar comendo direito. As vezes eu mando foto e aparecem as olheiras, que são normais pra quem trabalha em plantão, e ela fica preocupada. Pesa muito o emocional ficar sozinha, sem ver minha família”, diz Letícia.
Por cima da angústia, é possível encontrar momentos para comemorar cada conquista.
“Lembro de um plantão marcante, o que intubei sozinha meu primeiro paciente e deu tudo certo!”, compartilha Isabella Vinholi Junqueira, de 23 anos.
Isabella Vinholi, médica em Cacoal, RO — Foto: Reprodução/WhatsApp
Ela começou a trabalhar no dia 2 de agosto. Mas já vinha sofrendo com a pandemia do novo coronavírus antes de atuar na linha de frente. Ela e a mãe contraíram a Covid-19 logo no início dos casos em Rondônia.
Mesmo doente, Isabella cuidou da mãe e agora, curada, deixou a família em Porto Velho para trabalhar no Hospital de Emergências e Urgências de Rondônia (Heuro) e no Hospital Regional, os dois em Cacoal (RO).
FONTE: G1