Conversas revelam movimentação milionária de esquema de lavagem de dinheiro de milícia no Rio

Casal era 'laranja' de R$ 3,5 milhões em bens de Marcus Vinicius Reis dos Santos, o Fininho, que comandava esquema de dentro da prisão no Rio.
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A movimentação financeira milionária de Marcus Vinícius Reis dos Santos, o Fininho — que comandava de dentro da cadeia um esquema de lavagem de dinheiro da milícia de Rio das Pedras –, foi descoberta em conversas obtidas com autorização judicial pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ).

De acordo com a investigação, o grupo criminoso obteve vantagens indevidas de pelo menos R$ 5,7 milhões —agora bloqueados pela Justiça.

As principais conversas ocorreram entre Bruno Leonardo Fonseca Teixeira — que está foragido depois de não ser encontrado na operação desta quarta-feira (2) — e Thaisa Oliveira da Silva Teixeira, sua mulher, que também foi denunciada pelo MPRJ por lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Em diversos trechos de diálogos obtidos pelo MPRJ, aos quais o G1 teve acesso, os dois falam abertamente como foram usados para “lavar” o dinheiro de Fininho e como a movimentação financeira chega à casa dos milhões de reais.

Marcus foi preso em 2019, depois de ficar meses foragido na Operação Intocáveis. Ele estava preso na unidade Joaquim Ferreira de Souza, diferentemente de outros presos ligados à milícia, que ficam em outra unidade, a Penitenciária Bandeira Stampa, conhecida como Bangu 9.

Em um áudio do dia 26 de janeiro, Bruno afirma que Thaisa é “laranja” de Fininho, sendo a dona oficial de uma casa estimada em R$ 2 milhões.

Na conversa, os dois falam sobre uma desconfiança de Fininho com relação a Thaisa. Bruno, então, a orienta sobre o que ela deveria dizer ao criminoso, lembrando que havia empreendimentos e casas em nome dela.

” Bruno: Pergunta para ele: ‘Está desconfiado? Quer botar alguém no meu lugar? Não adianta ficar por trás de mim. Tô com uma casa de R$ 2 milhões no meu nome, que não tenho como justificar de jeito nenhum. Tô com arrendamento de estação no meu nome, tudo como “laranja sua”, dona de mercado, dona de casa, faço tudo por você, e você está desconfiado que eu peguei dinheiro para abrir um restaurante?'”

 

MPRJ cumpre mandado em condomínio de Jacarepaguá — Foto: Reprodução/TV Globo

MPRJ cumpre mandado em condomínio de Jacarepaguá — Foto: Reprodução/TV Globo

Segundo os promotores, uma gravação telefônica autorizada pela Justiça mostra que o miliciano usa laranjas pra esconder o patrimônio conseguido de forma criminosa. Na gravação, a mulher fala que tem uma casa em seu nome, mas diz que não é a proprietária.

Thaissa: “Uma casa no meu nome, que não é minha. Um arrendamento de cinco anos no meu nome…não ganho nada por isso”.

No mesmo dia, uma conversa entre os dois revela que Fininho estava conversando com sua filha, Camila, sobre a venda de um mercado em Rio das Pedras. O mercado Rede Rio foi construído em 2019, no valor de R$ 1,4 milhão, segundo o Ministério Público. Thaisa e Bruno foram os escolhidos para “maquiar” que o mercado pertence, na verdade, a Fininho.

Thaisa: Ele está negociando pelas minhas costas com a Camila (filha de Fininho).

Bruno: Ele é muito ingrato, por isso que eu não tô mais nem ligando para ele.”

Em outro trecho, Thaisa reclama que Fininho está desconfiando que ela está roubando dinheiro dele.

“Bruno: Ele acha que todo mundo rouba ele, e quem tá roubando ele, ele nem tá vendo.

Thaisa: Eu vou falar isso para ele amanhã. Está investigando coisa de restaurante, questionando ao invés de perguntar pra mim?”, questiona ela.

O restaurante em questão é o Estação Azul, em Rio das Pedras, do qual Bruno e Thaisa são os donos oficialmente. O local, no entanto, era usado por Marcus Vinícius, segundo as investigações, como reduto para resolver questões pessoais e receber pagamentos referentes à agiotagem praticada pela milícia de Rio das Pedras.

O patrimônio maquiado em nome do casal inclui:

  • Casa no Recreio dos Bandeirantes: R$ 2 milhões
  • Mercado Rede Rio: R$ 1,4 milhão
  • Restaurante Estação: R$ 100 mil

 

Na quarta-feira, a 1ª Vara de Justiça Criminal Especializada aceitou a denúncia do Ministério Público na Operação Intocáveis III contra seis envolvidos nos crimes de lavagem de dinheiro e organização criminosa. Na decisão, foi decretada também aprisão preventiva dos acusados Marcus, Bruno e Fernando Braga Ribeiro.

Já Thaisa, Fabricio Ferreira Godoi e Valdiane Moreira da Silva deverão comparecer mensalmente em juízo, não podendo se ausentar da comarca por mais de 15 dias sem autorização judicial, estando proibidos de manter contato com os demais acusados.

R$ 200 mil mensais

 

Em uma conversa do dia 28 de janeiro de 2020, Bruno conta a Thaisa que conversou com Fábio Costa da Silva, o Fabinho, ex-policial militar preso na operação Intocáveis 2, em janeiro de 2020.

Bruno: Eu falei: porr*, o Marcus está reclamando que está duro, que não entra nada. Aí ele falou: ‘Bruno, o teu irmão vai sair da cadeira bilionário.

Thaisa: ele já está milionário.

Bruno: Ele falou: ‘Teu irmão pega no mínimo R$ 200 mil por mês.

Thaisa: ele pega mais que R$ 200 mil.

Ao final do trecho obtido com autorização judicial, Thaisa comenta: “Muito sinistro, né?”

Esquema

 

A milícia de Rio das Pedras lavava dinheiro com compra de imóveis de luxo, incluindo uma cobertura no Recreio dos Bandeirantes, além de estabelecimentos comerciais na própria região e transferências para contas de “laranjas”.

Os mecanismos para lavar o dinheiro das atividades do grupo paramilitar foram alvo, nesta quarta-feira (2), da Operação Intocáveis III. Procurado por participação nos crimes, Bruno Leonardo Fonseca Teixeira está foragido.

Segundo o promotor Marcelo Winter, do Grupo de Atuação Especializada e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), investigar a lavagem de dinheiro da organização criminosa é fundamental.

O dinheiro adquirido com a prática de vários crimes, segundo ele, alimentava o esquema.

MPRJ cumpre mandado em condomínio de Jacarepaguá — Foto: Reprodução/TV Globo

MPRJ cumpre mandado em condomínio de Jacarepaguá — Foto: Reprodução/TV Globo

“Identificamos que, uma vez auferido o lucro, pode ser agiotagem, extorsões, eles reinserem esse valor no mercado, através de diversos mecanismos”, disse.

 

Segundo o promotor, são um sinal “gritante de lavagem de dinheiro”:

  • constantes transferências bancárias para “laranjas”, justamente para dificultar;
  • aquisição imobiliária em valores muito abaixo dos de mercado;
  • compra de Imóveis de luxo, incluindo uma cobertura no Recreio dos Bandeirantes.

 

“Os valores na escritura pública chegavam a ser um terço do valor do mercado. Tudo para passar uma falsa aparência de legalidade para personagens que não possuem lastro financeiro para esse tipo de aquisição”, explicou o promotor.

FONTE: G1 

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