Começa nesta quarta-feira (2), em Paris, o julgamento de acusados pelos atentados de janeiro de 2015 na França, nos quais 17 pessoas foram assassinadas. Os ataques começaram com o massacre na redação do jornal satírico “Charlie Hebdo”, no dia 7 de janeiro daquele ano.
Os irmãos Said e Cherif Kouachi invadiram o local e abriram fogo contra jornalistas e desenhistas que estavam em uma reunião. Onze pessoas foram mortas. Durante a fuga, os dois acusados atingiram um policial na rua.
Policiais em vigilância no tribunal de Paris para a audiência de abertura do julgamento de 14 supostos cúmplices do ataque ao ‘Charlie Hebdo’ — Foto: Alain Jocard / AFP Photo
No dia seguinte, Amédy Coulibay, um homem que era próximo dos irmaos Kouachi, matou uma outra policial em Montrouge, no subúrbio de Paris. Em seguida, ele invadiu um supermercado judeu em Vincennes, no leste da capital, onde mais quatro pessoas foram assassinadas.
Esses três terroristas foram mortos pelas forças de segurança. Os irmãos Kouachi foram atingidos em uma gráfica no subúrbio de Paris, onde tinham se escondido. Coulibaly morreu na mercearia judaica.
No julgamento que começa nesta segunda, serão decididos os destinos de 14 suspeitos de cumplicidade no ataque. Três deles estão foragidos.
Prevê-se que a sentença será dada em 10 de novembro.
Alguns dos acusados podem ser condenados à prisão perpétua. A maioria deve pegar penas de até 20 anos de prisão, acreditam juristas que acompanham o caso, mas a grande dificuldade será provar qual a responsabilidade de cada um nos atos, já que os principais acusados estão ausentes.
No total, serão ouvidas 144 testemunhas e 14 especialistas no tribunal. A advogada de defesa dos acusados, Safya Akorri, afirma que o processo ocorre para satisfazer a mídia e a sociedade. “É uma cicatriz extremamente profunda para toda a sociedade francesa.”
Série de atentados
Entre os réus presentes no julgamento está um conhecido de Coulibaly, Ali Riza Polat. Ele é acusado de fornecer o arsenal usado pelos autores do atentado.
O semanal “Charlie Hebdo”, que publicou caricaturas do profeta Maomé, era há anos alvo de ameaças terroristas em razão dos desenhos. A representação de profetas é proibida pelo islã sunita e ridicularizar ou insultar Maomé é passível de pena de morte, segundo a religião. Para marcar o início do julgamento, “Charlie Hebdo” publicou novamente as caricaturas na edição que chega nesta quarta-feira (2) às bancas.
Esses ataques de janeiro de 2015 marcaram o início de uma série de atentados islâmicos na França. Em novembro daquele ano, houve dois simultâneos, um na casa de shows Bataclã e outro no Stade de France, nos arredores da capital francesa, provocando 130 mortes e mais de 350 feridos.
Virar a página
O processo também é crucial para as vítimas. Muitas esperam que a justiça seja feita e aguardam com ansiedade os 49 dias de audiência para tentar deixar para trás o drama. Muitos sobreviventes vão prestar depoimento. Entre eles, Lilian Lepère, um jovem que ficou oito horas e meia debaixo de uma pia, sem se mexer, na gráfica onde os irmãos Koachi se esconderam antes de serem mortos pelas forças policiais.
“Ele espera que, com esse processo, a Justiça seja feita para ele e outras vítimas. Ele foi a última pessoa a ter ouvido os irmãos Kouachi quando ainda estavam vivos. Seu depoimento é importante para reconstituir os fatos e por isso ele aceitou a convocação da justiça. Não é alguém que queria se tornar famoso”, declarou seu advogado, Antoine Casubolo Ferro, à RFI.
Repórteres sem Fronteiras
O secretário-geral da Repórteres sem Fronteiras (RSF), Christophe Deloire, manifestou-se sobre julgamento.
“Aceitar restrições aos sistemas de pensamento é entrar em uma lógica muito perigosa.Ver 5 anos depois que há um julgamento é uma satisfação após o horror da tragédia. A justiça será feita para as vítimas e suas famílias”, afirmou.
FONTE: G1