Catador que achou mais de R$ 35 mil em cofre relata susto ao ver fundo falso com dinheiro: ‘Comecei a gritar’

Segundo o coordenador da Central de Polícia Judiciária de Araçatuba (SP), objeto foi encontrado com a porta destruída próximo a um terreno baldio em 2018 e permaneceu por dois anos na delegacia.
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O funcionário da Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Materiais Recicláveis de Araçatuba (Acrepom), que encontrou R$ 36 mil dentro um cofre descartado pela Polícia Civil, afirmou que levou um susto ao ver tanto dinheiro.

“Fiquei apavorado e comecei a gritar. Nunca tinha visto tanto dinheiro em espécie na minha vida. Eu olhei e tinham pacotes e pacotes”, contou o catador Manoel de Sá, de 63 anos.

 

O caso foi registrado na manhã de quinta-feira (27). A quantia encontrada dentro de um fundo falso foi devolvida à Polícia Civil. Agora, o cofre passará por perícia.

Em entrevista ao G1, Manoel de Sá contou que foi mexer no objeto para utilizá-lo como suporte de uma pia improvisada e se deparou com o dinheiro.

“O cofre já estava aberto e todo amassado. A coordenadora pediu para pegá-lo. Eu me aproximei, chutei a tampa, que estava difícil de abrir, e vi o dinheiro separado em notas de R$ 100 e de R$ 50. Não precisei usar nenhuma ferramenta”.

Dinheiro foi devolvido pela associação para a Polícia Civil — Foto: Arquivo Pessoal

Dinheiro foi devolvido pela associação para a Polícia Civil — Foto: Arquivo Pessoal

Ao todo, 26 funcionários trabalham no galpão. Cada um consegue tirar por mês cerca de R$ 1,2 mil. A renda total gira em torno de R$ 30 mil a R$ 35 mil. Ou seja, a quantia encontrada dentro do cofre é basicamente o lucro que a Associação consegue obter mensalmente reciclando materiais.

No entanto, os catadores não tiveram dúvida em devolver o dinheiro. Eles retiraram as notas do cofre, fizeram a contagem e ligaram para a Polícia Civil.

“Eu estou trabalhando há três anos. Foi a primeira vez que encontrei dinheiro nos objetos. Me sinto gratificado, porque fizemos o certo em devolver a quantia”.

“Eu gosto de deitar minha cabeça no travesseiro e dormir tranquilo. Não conseguiria fazer isso se tivesse pegado o dinheiro. Usei minha honestidade que meu pai e minha mãe me ensinaram”, complementa Manoel.

 

Afinal, como o cofre foi parar lá?

 

Ao G1, o coordenador da Central de Polícia Judiciária de Araçatuba (SP), Paulo César Cacciatore, explicou que o cofre foi encontrado depois de policiais militares receberam uma denúncia anônima informando que o objeto havia sido descartado no bairro Jussara, em Araçatuba, no ano de 2018.

“Ele estava arrebentado, destruído. Alguém furtou ou roubou, pegou o que tinha dentro, se tinha, e jogou o cofre no local. Ele foi apreendido e, na época, apresentado no 3º Distrito Policial. Deve ter sido realizada uma investigação, mas não conseguiram encontrar ocorrências que relacionassem com o cofre e com a vítima”.

Posteriormente, o cofre foi transferido para a Central de Polícia Judiciária em 2019, ano em que houve a unificação das delegacias de Araçatuba. Ele foi codificado e guardado em um depósito apropriado.

“Via de regra, não sei se é o caso, recuperamos um cofre furtado, mas a vítima não vai atrás. Elas largam e temos que ficar insistindo para buscarem. Para a delegacia, aquilo é um verdadeiro estorvo. Rotineiramente, fazemos uma análise das ocorrências e objetos apreendidos, porque não temos condições de ficar guardando coisas que não existe interesse da Justiça ou polícia”.

Paulo explica que foi realizada uma limpeza nos objetos apreendidos e que ele determinou que o cofre fosse levado para ser descartado. A decisão foi tomada depois de a polícia analisar boletins de ocorrências e não encontrar o dono.

“O valor foi apreendido. O cofre foi enviado para a perícia. Nós já começamos a tentar identificar ocorrências daquela época de furtos ou roubos, crimes contra o patrimônio, para tentarmos encontrar o dono”.

O coordenador da Central de Polícia Judiciária também alegou que, particularmente, acredita que o objeto não tenha passado por perícia no ano em que foi apreendido.

“Ele já estava todo arrebentado. Se recebo uma ocorrência de um cofre, eu vou tentar encontrar a ocorrência original que pertence a um furto ou roubo, mas se eu não localizar, ele vai ficando. Eu já cuidei de casos que só faltou colocar o cofre na viatura e entregar na casa da pessoa, porque ela não vem buscar. A gente precisa limpar aos poucos os objetos apreendidos, porque é muita coisa”.

Incêndio e ajuda

 

Em junho deste ano, a Associação foi atingida por um incêndio que destruiu grande parte do galpão e equipamentos usados diariamente pelos catadores. Não houve registro de vítimas.

Um inquérito foi instaurado para investigar o caso. Menos de um mês depois, um laudo apontou que o incêndio foi provocado de forma criminosa.

Segundo a Polícia Civil, os peritos identificaram três focos diferentes, que não estavam interligados. O suspeito de cometer o crime ainda não foi localizado.

Por conta do ocorrido, a associada Alexandra Campos Alves, que trabalha na secretaria, contou que os catadores estão exercendo suas funções de forma improvisada.

Incêndio destruiu o veículo da associação em Araçatuba — Foto: Reprodução/TV TEM

Incêndio destruiu o veículo da associação em Araçatuba — Foto: Reprodução/TV TEM

“A produção não parou. O incêndio atingiu mais a parte de cima, onde ficavam a biblioteca, refeitório e cozinha. Estamos recebendo bastante ajuda, porque o pessoal se sensibilizou”.

Alexandra explicou que a Associação está precisando de dinheiro para consertar as máquinas que foram danificadas pelas chamas. O custo para arrumá-las é alto.

“Estamos passando por um momento complicado. Todos recebem pouco dinheiro. Lutamos muito. A quantia encontrada no cofre ajudaria demais, mas não era nossa. Ligamos para a Polícia Civil e devolvemos”.

Os R$ 36 mil vão ficar guardados em juízo. Existem detalhes na lei que permitem, ao fim da investigação, que a quantia possa ser encaminhada aos cooperados que encontraram o valor.

FONTE: G1 

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