O Ministério da Saúde retirou, do site oficial sobre a pandemia do novo coronavírus, os dados acumulados sobre o número de infectados e mortos pela Covid-19. Desde a tarde deste sábado (6), o portal exibe apenas os resultados das últimas 24 horas.
A mudança segue o mesmo protocolo que foi adotado para o boletim diário de divulgação. O documento, que trazia a atualização das últimas 24 horas e os números consolidados, foi divulgado na sexta (5) com menos informações.
Com a mudança, o governo Jair Bolsonaro tenta esconder que o Brasil já atingiu a casa de 35.456 mortes e 659.114 casos confirmados da Covid-19. Os números foram tabelados neste sábado pelo G1, em um levantamento exclusivo junto às secretarias estaduais de Saúde.
Às 18h deste sábado, o portal oficial do Ministério da Saúde apresentava apenas os números reunidos até as 22h de sexta. Apenas nas 24 horas anteriores a esse boletim, foram registrados 30.830 novos contaminados e 1.005 mortos.
Em uma rede social, Jair Bolsonaro disse que “o Ministério da Saúde adequou a divulgação dos dados sobre casos e mortes relacionados ao covid-19.” Mas, nem o presidente, nem o Ministério da Saúde informaram qual era o problema, do ponto de vista científico, da divulgação dos números totais.
Informações ocultas
O portal de divulgação dos dados da Covid-19 chegou a sair do ar na noite de sexta, e só voltou da “manutenção” por volta das 16h deste sábado.
O G1 identificou três mudanças principais no novo formato:
- os números acumulados de contaminados e mortos deixaram de ser divulgados;
- os coeficientes de incidência de contaminação e óbitos (ou seja, a taxa de infecção e de morte por 100 mil habitantes em cada estado) e a taxa de letalidade da Covid-19 (ou seja, o percentual de contaminados que morrem por conta do vírus) também sumiram do site;
- a ferramenta de download dos dados, fundamental para análise estatística e pesquisa científica, não existe mais.
Compare, abaixo, as versões:
- Site atual: apenas com dados das últimas 24 horas
Portal oficial do Ministério da Saúde em versão com menos dados, divulgada neste sábado (6) — Foto: Ministério da Saúde/Reprodução
- Versão anterior: com dados acumulados, distribuição regional, taxa de letalidade e botão para download dos dados em formato acessível, entre outras funcionalidades.
Versão original do portal do Ministério da Saúde sobre Covid-19, com dados acumulados — Foto: Ministério da Saúde/Reprodução
Apesar da mudança, até as 18h, o site ainda explicava ao usuário os conceitos de “casos acumulados”, “óbitos acumulados” e dos coeficientes proporcionais – números que o governo passou a não divulgar.
O Ministério da Saúde define, por exemplo, que o coeficiente de mortalidade por Covid-19 poderia “contribuir para comparações nacionais e internacionais”, além de “subsidiar processos de planejamento, gestão e avaliação de políticas públicas de promoção, proteção e recuperação da saúde, concernentes à COVID-19.”
Apesar de apresentar as definições e indicar a importância de cada dado, o Ministério da Saúde não divulga mais os valores desses indicadores.
Glossário do Ministério da Saúde para dados da Covid-19 que, nesta sexta (5), o governo parou de divulgar — Foto: Ministério da Saúde/Reprodução
Boletim menor e mais demorado
Além de reduzir a qualidade da informação, o governo Jair Bolsonaro passou a divulgar os dados com atraso maior nesta sexta.
Até então, os números eram consolidados às 17h, a partir dos dados estaduais e do Distrito Federal, e divulgados até as 18h. O boletim era, inclusive, explicado em coletivas no Palácio do Planalto no fim da tarde.
Na última semana, os dados foram divulgados entre 21h30 e 22h. Questionado sobre a mudança, o presidente Jair Bolsonaro creditou a mudança à necessidade de obter dados mais consolidados. Ao mesmo tempo, afirmou: “Acabou matéria do Jornal Nacional“.
Apesar de apontar um motivo “técnico”, o presidente da República não explicou por que, por mais de 70 dias, foi possível consolidar os dados mais cedo. E nem por que os números que são divulgados às 22h constam de uma planilha que atualiza dados até as 19h.
Em seguida, como faz habitualmente, Jair Bolsonaro criticou o jornalismo da Globo e acrescentou: “Ninguém tem que correr para atender a Globo”.
Sobre a declaração, a Globo divulgou a seguinte nota:
“O público saberá julgar se o governo agia certo antes ou se age certo agora. Saberá se age por motivação técnica, como alega, ou se age movido por propósitos que não pode confessar mais claramente. Os espectadores da Globo podem ter certeza de uma coisa: serão informados sobre os números tão logo sejam anunciados porque o jornalismo da Globo corre sempre para atender o seu público”.